Depois que comecei a cuidar do jardim aprendi tanta coisa, uma delas é que não se deve decretar a morte de um girassol antes do tempo. E que as plantas sentem dor, que nem a gente. Caio F. Abreu
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
É só você que me provoca essa saudade vazia Tentando pintar essas flores com o nome De "amor-perfeito" E "não-te-esqueças-de-mim" Renato Russo
O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza. Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião. O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mando-o embora,depois de assinar a carteira de trabalho. Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. . "Você o tratava mal , agora está arrependido ? "Não , respondeu , estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar , ele sabia disso e gostava".
O tempo seca a beleza. Seca o amor, seca as palavras. Deixa tudo solto, leve, Desunido para sempre Como as areias nas águas.
O tempo seca a saudade, Seca as lembranças e as lágrimas. Deixa algum retrato, apenas, Vagando seco e vazio Como estas conchas das praias.
O tempo seca o desejo E suas velhas batalhas. Seca o frágil arabesco, Vestígio do musgo humano, Na densa turfa mortuária.
Esperarei pelo tempo Com suas conquistas áridas. Esperarei que te seque, Não na terra, Amor-Perfeito, Num tempo depois das almas.
Cecília Meireles
Mais louvareis a rosa, se prestardes ouvido à fala com que nos descreve a razão de ser bela em manhã breve para a derrota de todas as tardes.
Sabereis que ela mesma não se atreve a fazer de seus dons grandes alardes, pois o vasto esplendor de seu veludo e as jóias de seu múltiplo diadema não lhe pertencem: a razão suprema de assim brilhar formosamente tudo,
é prolongar na vida o sonho mudo da roseira - de que é fortuito emblema.
Somente depois da última árvore derrubada, depois do último animal extinto, e quando perceberem o último rio poluído, sem peixe, O Homem irá ver que dinheiro não se come! (Provérbio Indígena)