segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Declaração de Amor
( Prímulas)
Minha flor, minha flor, minha flor.
Minha prímula. Meu pelargônio.
Meu gladíolo. Meu botão-de-ouro.
Minha peônia. Minha cinerária.
Minha calêndula. Minha boca-de-leão.
Minha gérbera. Minha clívia. Meu cimbídio.
Flor flor flor.
Floramarílis. Floranêmona. Florazálea.
Clematite minha. Catléia delfínio estrelítzia.
Minha hortensegerânea.
Ah, meu nenúfar!
Rododendro e crisântemo e junquilho meus.
Meu ciclâmen. Macieira-minha-do-japão.
Calceolária minha. Daliabegônia minha.
Forsitiaíris tuliparrosa minhas.
Violeta… Amor-mais-que-perfeito.
Minha urze. Meu cravo-pessoal-de-defunto.
Minha corola sem cor e nome no chão de minha morte.
Carlos Drummond de Andrade
A flor e a fonte
"Deixa-me, fonte!" Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.
"Deixa-me, deixa-me, fonte!
" Dizia a flor a chorar:
"Eu fui nascida no monte...
"Não me leves para o mar".
E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.
"Ai, balanços do meu galho,
"Balanços do berço meu;
"Ai, claras gotas de orvalho
"Caídas do azul do céu!...
Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria
Rolava levando a flor.
"Adeus, sombra das ramadas,
"Cantigas do rouxinol;
"Ai, festa das madrugadas,
"Doçuras do pôr do sol;
"Carícia das brisas leves
"Que abrem rasgões de luar...
"Fonte, fonte, não me leves,
"Não me leves para o mar!..."
As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...
Vicente Augusto de Carvalho
A flor do maracujá
Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!
Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá!
Pelas tranças de mãe-d’água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá!
Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!
Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas,
Que falam de Jeová!
Pela lança ensangüentada
Da flor do maracujá!
Por tudo o que o céu revela,
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está!…
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!
Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em – á -
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos, ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!
Fagundes Varela
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
Flores
De um pequeno degrau dourado -, entre os cordões
de seda, os cinzentos véus de gaze, os veludos verdes
e os discos de cristal que enegrecem como bronze
ao sol -, vejo a digital abrir-se sobre um tapete de filigranas
de prata, de olhos e de cabeleiras.
Peças de ouro amarelo espalhadas sobre a ágata, pilastras
de mogno sustentando uma cúpula de esmeraldas,
buquês de cetim branco e de finas varas de rubis
rodeiam a rosa d'água.
Como um deus de enormes olhos azuis e de formas
de neve, o mar e o céu atraem aos terraços de mármore
a multidão das rosas fortes e jovens.
Arthur Rimbaud
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Canção da primavera
Parceria com flores
Todas minhas poesias, para escreve las,
tenho uma rica parceria com as estrelas,
e ainda conto com a ajuda do luar.
Mesmo que ela não fique completa
dispoe de bastante sorte, esse poeta
que também busca inspiração, em seu olhar.
Nos poemas onde vou falar sobre amores,
tenho lá, um jardim repleto de flores,
onde o que não falta, são palavras para rimar.
Entre tantas, de cor amarela ou vermelha,
para mim e como se fosse uma centelha,
onde frases lindas, já começam a brotar.
Numa roseira florida, ou mesmo numa muda,
também e fonte, onde vou buscar ajuda,
quando não a encontro numa canção.
Então junto sonhos, flores e as fantasias,
com carinho, vou montando belas poesias,
que são sempre aprovadas, por seu coração.
Gil de Olive
Poema florido e belo sobre a primavera
Perfil da Primavera
Marinheiro das estrelas absolutas,
eu me afogava no crepúsculo invisível das estátuas,
sonâmbulo tronco, como o ventre da última colmeia,
em que meninos inventavam o mundo,
entre o doce pânico do mel e o violino das abelhas.
Na paisagem de minha solidão lunar,
apenas o arco distendido das angústias.
Mas entre os corpos e a dança silenciosa,
o relâmpago de teus olhos serpenteou no infinito dos meus,
acordando as pálpebras assustadas do desejo
que brincavam na cereja púrpura do Campari,
como duas abelhas embriagadas.
Eras uma fogueira de jasmins incendiados,
como as espumas comovidas do oceano,
onde eu colhia o vinho, o trigo,
a rosa marítima de teus beijos.
Mas que anjo mágico ou pássaro planetário
esculpiu teus seios como quem inventa a febre,
o fogo, o lírio, a asa nua do prazer?
Que mecanismo fez teus lábios flor de açúcar,
gota de aurora, brisa vertiginosa das salivas?
Abraço teu corpo como quem abraça a primavera!
Recebo teus beijos como quem desfruta estrelas!
Estranha geografia a do teu corpo,
cuja pele habitam borboletas incendiadas
e onde os anjos açucarados das maçãs
fabricam a saudade a cada ausência,
como quem recolhe o perfume amarelo das laranjas:
entre a solene poesia e a infância transitória do silêncio!
Ah, amor!
O meu desejo é como um lírio acorrentado à lua,
a espera da bailarina ninfa do teu corpo.
Como um pássaro enamorado pelas nuvens
que descobre no infinito das manhãs
a pele macia da aurora nua.
(Nivaldo Lemos)
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